sábado, 17 de abril de 2010

Sevilla! Olé!

Segundo os espanhóis, as cidades mais bonitas de seu país começam com a letra “S”: Salamanca, Santander, San Sebastián, Santiago de Compostela... a julgar por Sevilla, estou de acordo com esta definição.

Pode-se dizer que Sevilla é a representação da Espanha que vive no imaginário internacional, com suas elegantes mulheres em seus belos vestidos, a alegre e melancólica música flamenca e suas esbeltas ‘bailaoras’, a boa comida, as festas religiosas, os toureiros, as corridas de touros e os gritos de olé!

Tive a sorte e prazer de viver nessa cidade por um curto período de tempo, que foram alguns dos melhores dias da minha vida... Tudo em Sevilla é especial e único: clima, arquitetura, luz, sons, gostos e o inconfundível cheiro dos ‘naranjos’ na primavera.

A cidade, que atualmente é a capital da comunidade autônoma da Andalucía, foi um dos principais centros econômicos mundiais em vários períodos da história, principalmente durante o Império Espanhol, depois do descobrimento das Américas, servindo, durante muitos anos, como o elo entre a Europa e a America Latina. Tudo isso está muito bem documentado no seu famoso Archivos de Índias, o maior centro de documentação sobre a colonização espanhola.

A arquitetura da cidade também conta sua história, Entre seus monumentos mais representativos se encontram a Catedral Giralda, os Reales Alcázares, a Torre del Oro e La Maestranza. Alguns desses monumentos foram declarados Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1987. O Museo de Bellas Artes de Sevilla é o museu mais visitado da Andalucía e a segunda pinacoteca mais importante da Espanha.

Com tantas opções e atrações, o melhor é organizar a visita a Sevilla, dividindo a cidade em três setores:

El Arenal

Lá estava o antigo porto de Sevilla, à beira do rio Guadalquivir, onde se encontravam os arsenais e quartéis de artilharia. As principais atrações deste setor da cidade são:


- Plaza de Toros La Maestranza: Uma das mais antigas e famosas arenas da Espanha, caracterizada pela cor amarelo-ocre da sua arena. Durante a Feria de Abril, os toureiros se arriscam ao máximo para oferecer o melhor espetáculo durante em busca de fama e fortuna. Tive a sorte de estar lá no dia 1º de maio de 2000, para ver o principal matador, Emilio Muñoz, ser retirado da arena depois de ser chifrado no seu primeiro touro e deixar que Dávila Miura ganhasse a tarde, depois de fazer uma apresentação grandiosa, recebendo as duas orelhas do touro e ser carregado nos ombros pela porta principal. O jornal El Pais, narrou o episodio assim:

“(...) Y de esta manera, al sexto toro, que desarrolló pastueña nobleza, le hizo un faenón, principalmente por naturales, ligados todos en una parcelita reducida de albero que era precisamente el centro geométrico del redondel. No hubo exquisiteces; si dominio, valor, emoción, sobrada torería, que suscitaron en la plaza un alboroto de entusiasmo. Cuadró en el mismo centro del redondel, mató a volapié neto, marcando lento y seguro sus tiempos, y ganó a ley las dos orejas que le fueron concedidas por aclamación. (...)”

- Torre Del Oro: Foi construída no século XIII para proteger o porto e hoje é um pequeno museu marítimo.

- Teatro de La Maestranza: Sede da Orquestra Sinfônica de Sevilla, que recebe freqüentemente apresentações de ópera de dança.

- Museo de Bellas Artes: É uma das melhores pinacotecas espanholas. A coleção de pinturas e esculturas do museu tem obras do período medieval à idade moderna, com obras de Murillo, Juan de Valdés Leal e Zurbarán. Entre as principais obras se encontram La Servilleta e La Inmaculada.

- Iglesia de La Magdalena: É uma imensa igreja de estilo arquitetônico barroco, do século XVI, onde Murillo foi batizado. Abriga obras de Zurbarán e Francisco Ocampo.

- Hospital de La Caridad: Construção típica da arquitetura barroca sevilhana, abriga importantes obras como Finis Gloriae Mundi e In Ictu Oculi de Valdés Leal, entre outras importantes obras de Murillo.

- Rio Guadalquivir: Vale à pena passear no fim de tarde pelo largo passeio de Cristóbal Colón, que é uma avenida arborizada que segue o curso do rio.

Barrio de Santa Cruz

É minha parte favorita da cidade. Esse antigo bairro judeu é um labirinto de pequenas ruas onde a cada esquina se encontra um detalhe, uma surpresa, praças escondidas, bares, pátios andaluces e alguns dos principais monumentos de Sevilla.

- La Catedral Giralda: É o monumento mais famoso de Sevilla e a terceira maior catedral da Europa. O nome dessa catedral gótica vem do seu campanário, uma estatua de bronze do século XVI que representa a fé. A subida da torre é um passeio imperdível e é feito por rampas internas, que permitiam os religiosos antigamente subir até o campanário à cavalo.

Dentro da Catedral estão vários monumentos, tais como o Retablo Mayor, a Puerta de la Asunción, a Capilla Mayor e o túmulo de Cristóvão Colombo. Segundo a lenda local, os visitantes que tocam as granadas que decoram o túmulo, sempre voltam a Sevilla. Funcionou comigo...

Na saída da Catedral está o Pátio de los Naranjos, onde os fiéis islâmicos dos tempos árabes lavavam as mãos e os pés na fonte antes das orações. Na saída do belo pátio está a Puerta Del Perdón.

- Reales Alcazares: Esse palácio que é um magnífico conjunto que serve de residência para a família real quando vão a Sevilla. O palácio está repleto de construções mudéjar - arquitetura de influência hispânico-muçulmana sobre as construções cristãs –, jardins e pátios belíssimos. Minha sugestão é fazer a visita com um guia eletrônico e tomar o tempo necessário para desfrutar de cada detalhe dessa maravilha.

- Casa de Pilatos: Um dos palácios mais suntuosos de Sevilla tem esse nome por recriar a casa de Pilatos em Jerusalém. Um passeio imperdível que deixa os visitantes assombrados com os detalhes da construção, a qual abriga arquitetura mudéjar, obras de arte, esculturas, jardins e fontes.

- Archivo de Índias: Neste centro de documentação estão mais de 86 milhões de manuscritos e 8.000 mapas e desenhos que ilustram a colonização do “Novo Mundo”, alem de cartas de Cristóvão Colombo, Hernán Cortes e Cervantes.

- Hospital de Venerables: Esse antigo asilo para sacerdotes foi convertido em centro cultural e é uma construção importante do conjunto arquitetônico de Sevilla. Sua principal atração é a pintura de Valdés Leal que adorna o teto da sacristia e que da ao visitante uma incrível sensação e visão tridimensional.

Arredores do Centro

Existem varias atrações nos arredores do centro que valem a pena visitar:

- Basílica de la Macarena: Construção neo-barroca onde está a imagem da Virgen de la Esperanza Macarena. O museu da Hermandad que faz parte do conjunto expõe magníficas jóias e roupas utilizadas nas procissões da Virgem.

- Convento de Santa Paula: Abriga um museu com galerias repletas de quadros e objetos religiosos. Na saída os visitantes podem comprar geléias e doces preparados pelas 40 religiosas que vivem no convento.

- Parroquia de San Pedro: Importante igreja de arquitetura sevilhana que tem um pátio de arcos decorado com afrescos do século XVII. Atrás da igreja, na rua Doña Maria Coronel, os visitantes podem comprar bolos e biscoitos feitos pelas freiras do convento Santa Inés.

- Parque de María Luisa: Esse parque que abriga a Plaza de España e magníficos jardins é uma excelente opção para relaxar e fazer uma caminhada para descansar.

- Real Fábrica de Tabacos: Neste edifício, que atualmente é parte da Universidad de Sevilla, se fabricavam no século XIX aproximadamente ¾ dos cigarros que se fumavam na Europa, por umas 10.000 cigarreiras. Umas mulheres temperamentais que inspiraram a criação de Carmen, pelo escritor francês Mérimée.

- Triana: Este setor, do outro lado do Guadalquivir, já foi, um dia, um bairro Cigano. A cerâmica de Triana é famosa e vale à pena visitar as muitas lojas que lá estão. Nas quintas-feiras alguns bares oferecem apresentações de música flamenca.

A presença árabe não deixou marcas somente na arquitetura de Sevilla, mas também na culinária que é rica e variada. Aproveite a visita para saborear uma variedade de “tapas”, as pequenas porções de comida, parecidos com o “tira-gosto”, nos muitos bares que estão por toda a cidade.

Além disso, há uma grande quantidade de restaurantes escondidos nas vielas e praças, onde a recomendação é parar para descansar, de preferência, sob a sombra de um “naranjo” e deliciar alguns pratos imperdíveis como o refrescante gazpacho, pescado a la sal, tortilla de patata ou um rápido emparedados de pata de jamón ibérico, acompanhado de um tinto de verano. É importante lembrar que a região da Andaluzia produz bons vinhos, vinagres e cerca de 1/3 do azeite consumido na Europa.

Se a viagem está programada para os meses de Abril ou Maio, então a dica é aproveitar algumas das melhores e mais tradicionais festas da Espanha. A maioria dessas festas tem origem religiosa, como a Semana Santa, Rocio e Corpus Christi. Porém, a mais animada de todas é a popular Feria de Abril, quando toda a cidade pára durante uma semana, em seus trajes típicos, para festejar, cantar, comer e beber. Simplesmente imperdível!

Minhas Dicas:

  • Onde Ficar: Recomendo o Hotel Murillo (www.hotelmurillo.com – Tel: +34 954 216 095), localizado na C/ Lope de Rueda 9. Barrio de Santa Cruz, que está muito perto da Catedral e do Alcázar. Uma alternativa é alugar um apartamento, que dá mais espaço e liberdade, especialmente se a estadia é mais longa. Minha recomendação são os Apartamentos Murillo, localizados na C/ Reinoso 6. Barrio de Santa Cruz.
  • Onde Comer: No Corral Del Água (www.corraldelagua.es – Tel: +34 954 224 841 - Calle del Agua, 6, Barrio de Santa Cruz), para comer no agradável e arborizado pátio, saboreando típicos pratos andaluzes, como a Cola de Toro. Já a Casa Robles (www.casa-robles.com – Tel: +34 954 213 150 - C/ Álvarez Quintero, 2) serve peixes, frutos do mar, além de boas carnes e os famosos “tapas”.
  • Onde comer tapas: Há varias opções na cidade, praticamente em todas as esquinas. Uma boa opção é na C/ Mateos Gagos 2, onde está localizado o bar Giralda (+34 954 228 250).
  • Para ver flamenco: Definitivamente a melhor opção é assistir o espetáculo no Los Gallos (www.tablaolosgallos.com - +34 954 216 981 - Plaza de Santa Cruz, 11), o melhor tablado em Sevilla.
  • Para escutar flamenco: Uma boa opção é La Carboneria (+34 954 214 460 - C/ Levies 18), escondida atrás de um portão de ferro numa rua anônima. Outra sugestão é cruzar a ponte Isabel II nas quintas-feiras e ir ao La Taberna, em Triana (www.iespana.es/latabernadetriana/sitios_de_interes.htm - + 34647.64.77.30 - C/ Duarte, 3).
  • Para a ressaca no fim de noite: Coma churros na entrada da ponte para Triana antes de ir pra casa...
  • Quando ir a Sevilla: Definitivamente, evite o verão europeu. O calor da cidade é insuportável.
  • O que levar: Uma máquina fotográfica semi-pro. Fez falta nas duas viagens que fiz a Sevilla. E sapatos leves para caminhar (bastante).
  • Compras: A Calle de las Sierpes é uma rua comercial fechada para pedestres no centro histórico, onde convivem lojas de roupa, confeitarias, souvenires turísticos, entre outras. Tem ruas paralelas, como Tetuán e Cuna, que oferecem atrativos similares. Outra opção é a famosa El Corte Inglés (www.elcorteingles.es).

Importante:

  • Recomendo, se tiver a oportunidade, de fazer um passeio em carruagem, pelas ruas de Sevilla. O serviço está disponível em frente da Catedral Giralda. Não se esqueça de negociar o preço antes de começar o passeio.
  • A “siesta” é levada a sério em Sevilla. Depois do almoço todos vão pra casa dormir e voltam pra rua somente por volta das 4-5 da tarde. Durante o período da siesta, Sevilla vira uma cidade fantasma e tudo está fechado, por isso, o melhor é adaptar a programação da viagem ao habito da cidade. Aproveite para adquirir o habito de fazer a siesta também. É muito agradável e ajuda a agüentar o ritmo da cidade, já que normalmente as pessoas estão na rua até as 12 da noite.
  • Os espanhóis têm um tom de voz muito forte e têm o hábito de falar todos ao mesmo tempo. Toma algum tempo acostumar... mas é bom saber pra não ficar com a sensação que eles são mal educados. Muito pelo contrario, os Sevilhanos são muito educados e gentis com os turistas. Em poucos lugares vi os residentes tratarem tão bem os turistas.

2 comentários:

J.Universo Soares disse...

Tava sumido. Ótimo texto e dicas, arranje mais um tempinho. Nível das postagens estão excelentes. Juízo!!

Unknown disse...

Concordo plenamente!! Estou vivendo em Sevilla a 2 meses, e vou passar mais 3. Amo esse lugar! Depois que se conhece Sevilla você pode até ir pra outras cidades, mas vai querendo voltar porque nada se compara a ela. Sevilla tiene un color especial (8)